26 setembro, 2008

Devotos no Alto José do Pinho - Gravação do CD e DVD ao vivo

Gravação de cd ao vivo e de dvd costuma ser um show diferente do habitual, mais técnico e mecânico, pois a intenção é gerar um produto perfeito, sem falhas. Mas, quando se trata da gravação do cd e do dvd de comemoração dos vinte anos de carreira do Devotos, a emoção acaba dando a tônica de todo o processo. Ainda que músicas precisem ser gravadas mais de uma vez; que os problemas comecem logo na primeira música; que toda a parafernália tecnológica esteja a serviço de uma gravação burocrática tal e qual um programa de TV, foi difícil não se emocionar ontem no Alto José do Pinho.

Câmeras não faltaram. Ao contrário, até assustava o número delas. Uma grua à direita do palco, pessoas de produtoras de TV, de programas independentes, gente da MTV, dos jornais. E de Natal, Maceió, João Pessoa, Caruaru. E do Jordão, Mustardinha, Curado. Pessoas que vieram de longe porque sabiam que o momento era especial.

Um sujeito muito bem vestido, camisa por dentro da calça, me vê com a camisa do Devotos e pergunta se eu faço parte da produção da banda. Respondo que não, que sou apenas um fã. E ele explica: “eu acabei de chegar de João Pessoa. Larguei do trabalho agora, por isso estou vestido assim. Sou fã do Devotos há mais de dez anos, e não perderia este show por nada”. Além de fãs antigos como ele, muita gente nova, muita criança no colo dos pais, coisa realmente bonita de se ver. O clima era esse.

Alto José do Pinho lotado, a banda sobe ao palco e Cannibal confessa no microfone: “galera, eu nunca estive tão nervoso na minha vida.” E emenda com o grito:”Tudo que eu queria não podia terminar”. “Dia Morto” acabava de ser executada para abertura do show, e veio o primeiro problema. Cannibal de novo ao microfone: “Deixa eu contar uma história. O pessoal da técnica insistiu para que arranjássemos uma bateria nova para o show de vinte anos da banda. E o pedal da bateria acabou de quebrar. Antes tivesse ficado com a velhinha mesmo”. Ninguém segurou o riso. Alguns minutos de ajustes, e “Dia Morto” é tocada novamente, agora com mais raiva ainda. Emendam com “Nós Faremos que Você Nunca Esqueça” e “Caso de Amor e Ódio”. A roda comia solta na frente do palco. A grua registrava toda a reação do público, e cada presente parecia saber que estava fazendo parte de um momento histórico.

Aí Cannibal diz que vai chamar um amigo especial. Antes de anunciar quem é o tal amigo especial, Lirinha entra, com seu timing único, vestindo a camisa do "Náutico" (não foram poucos os que chiaram). Juntos, cantam “Dança das Almas”, canção que encerra o último cd da banda, “Flores Com Espinhos para o Rei”. E aí veio a surpresa mais bacana da noite: atacaram com uma versão furiosa de “A Matadeira”, que ficou excepcional tocada pelo trio e com os vocais de Cannibal e Lirinha. Sem contar que o Alto quase veio abaixo. Lindo!

Adilson Ronrona (agora um respeitado senhor casado), entrou de pijama para cantar “Sociedade Alternativa”, e o Devotos devolveu a homenagem tocando o clássico mor do Matalanamão, “Mim Dai”.

Durante “Mas Eu Insisto”, a banda sai do palco e abre espaço para o Afoxé Ilê de Egbá tocar tambores e fazer evoluções. Depois a banda retorna para a explosão do peso do hardcore com o batuque do afoxé. Após o término do show, a música precisou ser repetida por problemas técnicos na gravação.

E vieram “Eu Tenho Pressa” (que também precisou ser repetida), “Tem de Tudo”, “Faz Parte do Cotidiano”. Eis que Clemente, dos Inocentes, é chamado ao palco. Toca e canta “Alien” junto com a banda. Diz que compôs a próxima canção na época do Plano Cruzado (a maioria presente nem era nascida nessa época), e manda uma bela versão de “Pátria Amada”.

E surge imponente “Punk Rock Hardcore Alto José do Pinho”, porrada que tantas vezes me deixou sem voz e sem fôlego nas rodas-de-pogo da vida. E, para felicidade geral do Alto José do Pinho, “Punk Rock…” também precisou ser tocada novamente.

Pelo que se viu do show, do esmero de todo o pessoal da técnica e da banda, o CD e DVD têm tudo para ficar lindo. Gravado no local certo, por gente que sempre acreditou que “a revolta pode ser de paz”.

Danem-se a suposta e mitológica imparcialidade e a educação formal. Não dá para terminar este texto de outra forma: Parabéns, Cannibal, Neilton e Celo. Vocês são do caralho!

Fonte: http://www.reciferock.com.br/

0 COMENTÁRIOS: